BlogsHayim Makabee

A arte de não se ofender

Por Hayim Makabee

Muitos olim se sentem ofendidos com o comportamento dos israelenses. É muito comum escutar os novos olim descrevendo os israelenses como grossos, mal-educados e rudes. Eu gostaria de compartilhar neste artigo três dicas para diminuir a frequência dessas situações desagradáveis e ajudar os olim a se sentirem melhor em Israel.

Não se ofenda: não é pessoal!

A primeira dica é nunca levar para o lado pessoal. Infelizmente muitos olim interpretam situações de acordo com esta equação:

– Eu estou sendo maltratado = Esta pessoa tem alguma coisa contra mim

Ou também:

– Esta pessoa está sendo antipática comigo = Esta pessoa não gosta de mim

Talvez isto seja verdade no Brasil (na maioria dos casos), mas na minha experiência isto não é verdade em Israel. Se você está se sentindo maltratado aqui em Israel, isso provavelmente não tem nada de pessoal contra você. Se uma pessoa está sendo grossa ou rude com você, isso não significa necessariamente que ela não foi com a sua cara.

Por exemplo, se você entra em uma loja e o vendedor não te dá a atenção que você merece, observe: Será que este vendedor está ajudando os outros clientes na loja? Alguém está sendo tratado diferente de você? Ou simplesmente o vendedor não atende ninguém?

Outro exemplo, quando você vai ao médico e é atendido em menos de 10 minutos, pergunte: Quanto tempo durou a consulta dos outros pacientes antes de mim? Será que o médico foi mais atencioso com as outras pessoas? Quantas pessoas este médico atende por hora?

No seu ambiente de trabalho, talvez você tenha um colega que nunca te deseja “bom dia”. Isso com certeza é desagradável, mas você não precisa se ofender pensando “ele nunca deseja bom dia para mim”, porque ele provavelmente não deseja bom dia para ninguém.

Se você prestar atenção, você certamente vai chegar à conclusão que não está sendo tratado muito diferente das outras pessoas. Então não é nada pessoal contra você!

Não se ofenda: é cultural!

Como você pode saber se está sendo maltratado, ou se você está sendo tratado normalmente, mas simplesmente está sendo vítima de um choque cultural?

Para responder a esta pergunta é necessário entender de que forma os israelenses (sabras) interpretariam essa situação pela qual você está passando. Em outras palavras: você está se sentindo ofendido, mas será que os sabras também se sentiriam ofendidos no seu lugar?

A melhor maneira de entender a cultura israelense é observar atentamente a forma como eles interagem uns com os outros. Devemos tentar entender como eles se sentem, como eles reagem em cada situação, quais são as suas expectativas e o que eles consideram normal.

Então, por exemplo, no caso do vendedor da loja, podemos observar que os sabras não esperam que o vendedor seja muito atencioso com eles, não vão ficar chateados com o atendimento, e muito menos vão se sentir ofendidos. Em outras palavras, os sabras acham que este comportamento do vendedor é absolutamente normal.

No caso do médico, provavelmente nenhum sabra tem a expectativa que a consulta demore mais do que 15 minutos, e também não acham ruim se o médico não for simpático com eles. Eles acham perfeitamente normal que o médico atenda seis pacientes por hora, e não vão se sentir ofendidos se o médico não tiver tempo de responder a todas as suas perguntas.

Com relação ao seu colega que não deseja “bom dia” quando chega no escritório, isso também é considerado aceitável em Israel. Algumas pessoas têm o hábito de desejar “bom dia” para todos, outros não têm, e outros apenas respondem, mas todos eles são considerados normais para os padrões israelenses.

Da mesma forma, podemos observar que os sabras não usam as palavras “desculpe”, “obrigado” e “com licença” com a mesma frequência que nós usávamos no Brasil. Aqui em Israel você pode simplesmente pedir a seu colega “você tem uma caneta?”, e não precisa dizer “por favor, você poderia me emprestar uma caneta?”

Se observarmos com atenção, provavelmente vamos chegar à conclusão que estamos apenas sendo vítimas de um choque cultural, e não vítimas de maus-tratos.

Não se ofenda: aqui é diferente!

Além das diferenças culturais, também existem grandes diferenças na forma como os negócios e os serviços são estruturados em Israel. É muito difícil para um novo olê compreender isso nos primeiros anos, mas o comércio em Israel funciona de forma diferente de outros países e os serviços não têm os mesmos padrões com os quais estávamos acostumados. Mesmo os cargos e ocupações profissionais podem ter uma definição muito diferente da que conhecemos.

No caso do comércio, é preciso saber que aqui em Israel a maioria das lojas não dá comissão sobre as vendas para os seus funcionários. Então na verdade aquela pessoa que trabalha na loja não é realmente um vendedor. A sua principal função é manter a mercadoria organizada, e não atender os clientes ou tentar aumentar as vendas. Em outras palavras: a maioria das lojas de roupas em Israel opera como supermercados que vendem calças e camisas.

No caso dos serviços de saúde, o olê precisa compreender que está usando serviços públicos, e não serviços privados como estava acostumado no Brasil. Em geral, o mesmo médico que te atende na “Kupat Cholim” também tem uma clínica privada onde ele trabalha parte do tempo. No serviço público a consulta vai demorar 10 minutos, mas se você quiser consulta privada, e estiver disposto a pagar, vai ser muito mais bem atendido.

Outro caso importante de analisar são os restaurantes. Praticamente todos os olim reclamam do péssimo atendimento nos restaurantes israelenses. Mas é preciso entender que aqui em Israel não existe a profissão de garçom. Quem te atende nos restaurantes em geral são jovens estudantes, fazendo um trabalho temporário, para o qual receberam um mínimo de treinamento. Se você frequentar o mesmo restaurante durante alguns meses seguidos, certamente vai observar que a equipe de “garçons” está constantemente mudando.

Finalmente, é preciso levar em consideração o custo da mão-de-obra. O salário mínimo em Israel é muito maior do que no Brasil, e isto não permite aos estabelecimentos comerciais israelenses manter o mesmo número de funcionários que estamos acostumados no Brasil. Como consequência, as lojas em Israel têm menos vendedores, os restaurantes têm menos garçons, e o nível de atendimento cai de acordo.

Resumindo

Não devemos nos ofender quando temos a impressão que estamos sendo maltratados ou mal atendidos. Devemos nos lembrar:

– Não é pessoal. Esta pessoa com quem você está lidando não tem nada contra você.

– Existem grandes diferenças culturais. Você provavelmente está sendo tratado de uma forma normal para os padrões israelenses. Se estivesse no seu lugar, o sabra não se sentiria ofendido.

– Muitas coisas aqui funcionam de forma diferente. O comércio e os serviços em Israel não operam da mesma maneira que nós estávamos acostumados no Brasil.

Uma nota importante: De nada adianta fazer comparações entre Brasil e Israel. A pessoa que decidiu viver em Israel deve se esforçar para compreender a realidade israelense, evitando interpretações erradas e sofrimentos desnecessários.

Um final otimista: A qualidade dos serviços em Israel está melhorando e a cultura israelense está se ocidentalizando. Pessoas como eu, que chegaram a Israel há 30 anos, podem atestar que já evoluímos bastante.

Boa Sorte, Shaná Tová Umetuká

Foto: Marcia Cherman Sasson (Revista Bras.il)

4 thoughts on “A arte de não se ofender

  • Já tentei explicar em artigos e conversas
    A verdade é que fez um bom trabalho aqui. Melhor que o meu

    KOL Hakavod.

    Resposta
  • Renato

    Alguém já disse, o israelense não tem tempo. Nem de se ofenfer.

    Resposta
  • Sandro Maghidman

    Adorei Hayim, esse eh o relato autentico da “Vida como ela eh” em Israel!!

    Resposta
  • Antonio Celso Ribeiro

    Melhor explicação. Mas em termos pessoais, quando se faz amizade com sabras, eles são uns amores.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo