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A Copa mais política do mundo

Por David S. Moran

Como narraria o saudoso Fiori Gigliotti, a bola começou a rolar e o rolo do maior evento esportivo do mundo está aí, em toda parte. De como o Catar conquistou hospedar a Copa do Mundo, já se falou demais. Mas, aqui a política fala mais alto do que nos outros mundiais, que certamente tinham algum toque político.

Os capitães de sete seleções nacionais combinaram entrar nos jogos com faixas nos ombros, com as palavras “one love” (um amor), que identifica os gays. FIFA, órgão supremo do futebol internacional, os proibiu de realizar este protesto que valeria contra o tratamento do Catar à comunidade LGBT. Temendo represálias da entidade, os jogadores cederam. Mas, a seleção alemã decidiu protestar. Para a foto oficial da seleção os jogadores se ajoelharam, colocaram as mãos sobre as bocas e assim se expressaram contra as proibições e o tratamento aos trabalhadores, mulheres no Catar.

Os jogadores da seleção iraniana, contrariando as ordens de cantar o hino nacional, antes do jogo, ficaram mudos em sinal de protesto contra seu governo e contra sua atitude nos protestos que se espalham pelo país. Os jogadores são verdadeiros heróis, pois o atual regime é muito violento e poderia agir de forma não esperada contra eles. No Irã os futebolistas têm status de heróis. Tanto é que alguns deles ostentam tatuagens, fato proibido pelo islão radical e eles não são punidos. Alguns jogam no exterior e não poderiam ser punidos, mas suas famílias, sim.

A primeira grande surpresa foi causada pela seleção da Arábia Saudita. Ao contrário do Catar que despejou toneladas de “masari” (dinheiro) também na sua seleção, mas estreou mal, a da Arábia Saudita surpreendeu derrotando a forte seleção da Argentina, com Messi, Di Maria e outros. O que parecia fácil, mesmo porque Messi abriu o marcador, logo aos 10 minutos, virou um pesadelo argentino.

A Arabia Saudita que é rival do Catar, agora com abertura pelo Catar e o Oriente Médio para sediar uma Copa do Mundo, não medirá esforços para fazer o mesmo já no Mundial de 2030. O príncipe herdeiro, MBS, para comemorar a vitória de sua seleção sobre a da Argentina decretou um dia de feriado nacional.

Afinal, o Catar foi o primeiro país árabe muçulmano a sediar a Copa, no Oriente Médio e numa época em que os campeonatos europeus já estavam em andamento e tiveram que ser paralisados por mais de um mês. Tanto o Catar, quanto a Arabia Saudita, não têm tradição futebolística e carecem de vibração e ânimo. Mesmo em pleno outono, as temperaturas durante o dia são elevadas e só a noite se tornam agradáveis.

Um país que desperdiçou 220 bilhões de dólares – que poderiam ajudar muitos pobres – cerca de 15 vezes mais do que a anterior realizada na Rússia e ninguém sabe ao certo os números publicados. De um dia para o outro, até os assentos nos estádios subiram. A FIFA exige estádios de 40, 60 e 80 mil assentos e assim foi feito no Catar. Mas, repentinamente no estádio em que foi a abertura, que foi de 60 mil lugares, o número subiu para 68.895. O maior estádio em Catar foi construído para 80 mil atendentes. Mas, no jogo da Argentina contra a Arabia Saudita noticiaram que foram 88.966 fãs, apesar de que em todos os estádios nota-se que há inúmeros assentos vazios.

O cúmulo (ou não) da politicagem desta Copa foi quando o presidente da FIFA, Gianni Infantino defendeu o Catar diante dos inúmeros protestos. Disse ele: “eu sou europeu. Acho que é uma hipocrisia atacar o Catar. Nos, os europeus precisamos pedir desculpas por 3000 anos de opressão, antes de moralizar os outros. Hoje me sinto, catariano, árabe, africano, deficiente, gay e trabalhador migrante. Não preciso defender o Catar. Estou defendendo o futebol e a justiça”. Quanto à proibição de venda de cerveja anunciada no dia que antecedeu a abertura do Mundial, se desculpou dizendo que nada acontecerá sem álcool durante três horas. A cerveja Budweiser é uma das maiores patrocinadoras da Copa do Mundo.

Já estou com câimbras de tanto assistir aos jogos desta Copa. Ela nos oferece bons temperos, com muita pimenta para uns e muito mel para outros. Já no quarto dia nos deu outra grande surpresa quando a Alemanha perdeu para o Japão por 2 a 1. Certamente teremos mais algumas surpresas. Uma boa surpresa e muito educadora, foi dos fãs japoneses que se empenharam em limpar o estádio depois do jogo, por fazer parte de sua tradição. Um show de bola nos proporcionou a seleção espanhola. Queremos mais e não me importarei com as câimbras.

A seleção canarinho estreou bem rumo ao Hexa e esperamos que a cada jogo melhore. O segundo gol do Richarlison foi majestoso e com dois gols sem troco da Sérvia, a seleção brasileira está no caminho certo.

Foto: Divulgação (via Gazeta Brasil)

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