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O mundo oriental desorientado

Por David S. Moran

Em 2010, as grandes manchetes da mídia internacional anunciaram os protestos em alguns países árabes e os chamaram de “a primavera árabe” esperando ter grandes mudanças. O balão foi inflado, mas explodiu na cara de todo o mundo, incluindo o árabe.

A esperada democratização não ocorreu e na maioria dos países envolvidos, quase nada mudou. Talvez algumas personalidades tenham sido substituídas por outras, mas a principal preocupação do povo, a de melhoria na sua condição de vida, de nada mudou, em muitas casos até piorou.

Nas últimas semanas, novamente o mundo árabe foi assolado por violentas manifestações, por problemas internos e pela subversão alimentada pelo regime de Teerã, que está presente em todo lugar onde há violência.

Um dos principais responsáveis pelas agitações em certos países é o General Qassem Soleimani, comandante da Força Al Quds, das Guardas Revolucionárias. Ele tem ligação direta com a Hizballah, com os rebeldes xiitas no Iêmen, treina as milícias xiitas no Iraque e está tentando se estabelecer na Síria, depois de ter proxis no Líbano (Hizballah) e na Faixa de Gaza (Hamas e Jihad Islâmico).

Egito. Em setembro, houve início de manifestações, principalmente no Cairo, mas que foram logo debeladas. O atual governo do presidente Al-Sisi lembra muito bem o início das manifestações na Praça Tahrir (da Libertação), que acabaram derrubando o seu antecessor, o islamista Mursi. Neste período, a situação social vai de ruim a pior. O crescimento da população egípcia é muito grande, tornando a população mais pobre. Segundo o IBGE egípcio, 32,5% da população vive abaixo da linha de pobreza (em 2000 era “apenas” 16,7%), embora o desemprego seja de 8,1%, o menor dos últimos 20 anos.

Iraque. Há semanas que milhares de pessoas saem às ruas de Bagdad, Basra e outras cidades, para protestar contra suas condições de vida, a corrupção governamental e a presença iraniana no país. A repressão das forças armadas do Iraque já resultou na morte de mais de 300 pessoas e milhares de feridos. Estes atos quase não são mencionados na mídia ocidental. Parece que há diferença entre o sangue palestino e o iraquiano. Neste país, de maioria xiita, há provas de que os Guardas Revolucionários do Irã estão envolvidos na supressão dos distúrbios.

Líbano. Na antiga Suíça do Oriente Médio, como era chamado, há semanas que grande onda de violência assola as principais cidades do país (na foto, em Beirute). Os manifestantes querem reformas econômicas, abolir alguns impostos e se rebelam contra a corrupção governamental. No confronto com os manifestantes, além das forças de segurança, ativistas da Hizballah interviram e bateram nos civis.

Nassrallah sabe por que teme por estas acusações, pois o acusam de ser um dos principais causadores da catástrofe econômica do país. Devido a sua estreita ligação e serviço para o Irã, o Líbano também sofre das sanções econômicas impostas contra o Irã. Ademais, o Hizballah, que está no governo libanês, desvia toneladas de dólares para se armar. Já tem mais de 130.000 mísseis direcionados contra Israel. Estas verbas poderiam ser mais bem aproveitadas em áreas da educação, saúde, assistência social, etc.

Um dos efeitos destas manifestações foi a demissão do Primeiro Ministro, Saed al Hariri, na terça-feira (29) e a dissolução do seu governo. O problema é que a sociedade libanesa é muito fiel à família, religião e origem. Pela Constituição de 1932, cada religião tinha uma incumbência. Na época, os cristãos maronitas eram maioria (55%) e receberam o posto da presidência (atualmente são apenas cerca de 15%). O primeiro-ministro é muçulmano sunita, o presidente do Parlamento é muçulmano xiita.

Síria. Neste país que foi devastado pela recente guerra civil, com mais de 500.000 mortos e milhões de feridos e refugiados, a desordem continua, mas fora do foco da mídia. Na Síria há tropas russas e iranianas e o regime depende deles. Tropas turcas invadiram o norte do país e continuam combatendo os curdos sírios, com o silencioso consentimento da União Europeia, a Liga Árabe e a Rússia, entre outros. Tudo isto levou a fuga de milhares de terroristas do DAESH (Estado Islâmico) de prisões curdas. Fato que poderá reviver ações terroristas do EI, principalmente no Ocidente. Lunáticos fanáticos islamistas, de países ocidentais se incorporaram ao EI, lutaram e tiveram experiência militar. Agora, voltarão aos países de origem e tentarão reativar seu fanatismo, através do terror.

A efervescência nos países árabes, que não são auxiliados pelos irmãos ricos do Golfo Pérsico é grande e só a mão brutal das forças de segurança a reprimem. Quando se analisa o PIB per capita (vide foto ao lado) dá para entender um pouco melhor o que sentem os árabes. Da direita para a esquerda o PIB per capita em Israel, Líbano, Iraque, Jordânia, Autoridade Palestina, Egito e, por fim, a Faixa de Gaza, US$ 1.582.

Há uma enorme disparidade e comparando aos países árabes como Qatar, Arábia Saudita, Dubai e outros é inimaginável. O Dr. Abdullah Tsalahah, que fundou e dirige o Centro de Estudos Israelenses na Jordânia, escreveu um artigo, publicado no diário Israel Hayom (28). Neste explica porque os governos árabes, mesmo do Egito e Jordânia, que tem relações diplomáticas com o Estado Judeu, não querem que seus cidadãos sejam expostos a Israel. Escreve: “uma das razões dos governos árabes em não ter interesse que o cidadão árabe seja exposto ao tremendo sucesso de Israel, nas áreas da educação, saúde, economia, agricultura e tecnologia, pelo simples motivo de que Israel, para os governos árabes, não é apenas um desafio de segurança ou político, mas também cultural”.

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