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Pessach e a Cabalá

Por Mary Kirschbaum

Quem me conhece sabe que tenho verdadeira admiração pelo mundo espiritual, e que a Cabalá me instiga e faz com que eu me aprofunde cada vez mais em seus estudos.

Estando em Eretz Israel e vivenciando as festividades judaicas e nossas tradições com maior proximidade, não posso deixar de buscar cada vez mais os significados de cada chag e seus mistérios dentro do mundo cabalístico.

Pois bem, estamos agora em Pessach… E o que isto significa?

Entramos no mês judaico de Nissan.

Nissan é o primeiro mês do calendário judaico, onde celebramos o Êxodo (saída) dos filhos de Israel do Egito. O signo deste mês é Áries (o carneiro).

No antigo Egito, politeísta, o carneiro era o animal sagrado.

O rio Nilo também era sagrado para o povo egípcio. Era considerado a fonte de vida para o povo, que vivia da agricultura. As chuvas eram escassas. Mas, no período das cheias, o rio transbordava, fertilizando o solo.

O deus-guardião da nascente do rio era representado na forma humana com cabeça de carneiro. Ele também era considerado o símbolo da fertilidade.

Os filhos de Israel foram salvos por D’us, das mãos dos egípcios, justamente no dia de lua cheia do mês de Nissan, regido então pelo signo de Áries.

No dia 14 de Nissan, um dia antes da saída do Egito, D’us ordenou aos filhos de Israel que cada família judia sacrificasse um carneiro para no dia seguinte servi-los como alimento na celebração de Pessach.

Este foi o Korban Pessach, o primeiro sacrifício do carneiro pascal.

D’us tinha o propósito com isto de mostrar que a salvação dos judeus do Egito se devia exclusivamente a sua intervenção. Para os egípcios, seu propósito era mostrar a eles que sua divindade (o carneiro) não tinha poder algum. Era apenas um animal, que após ser abatido e assado, e serviu de alimento para os judeus.

O elemento associado ao mês de Nissan é o Fogo, usado para assar o Korban Pessach.

Paralelamente, o planeta correspondente a esse mês é marte, que tem uma cor avermelhada, lembrando o fogo e o sangue.

Também pensamos no signo de Áries como o significado da união, pois carneiros e ovelhas vivem sempre em rebanhos, em bando; assim como o povo de Israel estava na saída do Egito unido e agrupado e seguindo seu líder, Moshé Rabeinu, que o Zohar denomina de “O Pastor Fiel”.

A palavra Pessach, significa boca (Pé) e falante (Sach), fazendo alusão ao propósito maior do chag que é utilizar o nosso poder de fala para contar aos nossos filhos os milagres de D’us em prol de nosso povo.

A tribo associada ao mês de Nissan é a de Yehuda, um dos 12 filhos de Jacob. Dele, que simboliza a liderança judaica, descendem os monarcas judeus, inclusive o rei David e o Mashiach.

O órgão do corpo correspondente ao mês de Nissan é o pé direito, simbolizando a caminhada do povo de Israel, que inicia sua trajetória pelo deserto, com a libertação da escravidão egípcia, em busca da terra prometida.

Como maior significado, Pessach ou passagem é o auge de um marco astral de transformação, morte e renascimento.

Recebemos a luz da motivação, do entusiasmo e da ação enquanto a lua cheia ilumina nossa consciência e nosso caminho.

Saímos da escravidão quando enxergamos que há outra realidade além desta finita e irreal.

Alguns acontecimentos mudam nosso rumo, passamos pelo mar vermelho, que se abre deixando ver o outro lado, mas quando se fecha, não se pode mais voltar atrás. Assim nos comprometemos com novos planos.

Ao terminar o seder de Pessach, suplicamos a D’us que consigamos levar às nossas almas a mensagem de liberdade. Mensagem esta que nos inspira a quebrar nossas prisões e escravaturas de intolerância, egoísmo e ódio.

Somente quando se está livre, autoconfiante e independente é que poderemos nos sentir completos, como um povo, e com a crença na unidade- Monoteísmo.

Pessach é uma das três principais festas ou acontecimentos da história de um povo místico, ligado às forças superiores, à luz divina, nos remetendo a construção de um povo e uma identidade, com a busca de uma terra própria e maravilhosa, onde se possa viver em paz.

Chag Sameach!

One thought on “Pessach e a Cabalá

  • Flavio Miranda

    Um belo texto escrito por uma bela mulher.

    Resposta

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