Os 100 primeiros dias de Biden no Oriente Médio
Por Janine Melo
Em 20 de janeiro deste ano, o 46º Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi empossado na escadaria do Capitólio. Após a vitória eleitoral, Biden se viu perante um novo desafio: montar um governo que atue rapidamente nos primeiro cem dias de nova liderança.
Nos EUA, a época mais importante para cada presidente eleito são os cem primeiros dias desde sua posse. A partir da época do presidente Franklin D. Roosevelt, que enfrentou sérios problemas econômicos ao subir ao poder em 1933 e liderou diversas reformas e programas que influenciaram o país inteiro no começo de sua presidência, todo presidente novo recebe como tarefa fazer avançar os principais itens de sua agenda política nos seus cem primeiros dias. Biden, como podemos ver hoje, levou muito à sério esta tarefa.
Tanto na política interna quanto na externa, o novo presidente dos Estados Unidos demonstrou ter uma nova concepção de governo, vista nas táticas tomadas nestas últimas semanas. Neste artigo, descreverei o que foi feito pelo novo governo dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio e tentarei analisar o que nós deveremos esperar daqui para frente.
Primeiramente, como israelense preocupada com este assunto, é importante falar sobre a reaproximação dos EUA com o Irã. Representantes do governo de Biden vêm mantendo conversas informais com autoridades iranianas sobre um futuro retorno ao acordo nuclear, a respeito do qual as opiniões são bastante ambivalentes. Além disso, uma série de sanções impostas ao Irã na época da presidência de Trump foram suspensas, o que levou à opositores de uma volta ao acordo nuclear a criticarem ferozmente Biden.
Apesar dessa suposta reaproximação com o Irã, os EUA não deixaram passar em branco ataques à soldados americanos no Iraque. A primeira ação militar aberta do governo Biden foi no leste da Síria: depois que forças americanas foram atacadas três vezes próximo ao Aeroporto Internacional de Erbil e a Bagdad, aviões americanos atacaram alvos xiitas pró-iranianos na fronteira entre a Síria e o Iraque. Em consequência, 17 pessoas foram mortas. De acordo com uma fonte norte-americana, os ataques tinham como objetivo enviar uma mensagem às milícias pró-iranianas sem levar a um conflito mais amplo.
Ademais, pode-se dizer que Biden vem anunciando aos poucos o retorno dos direitos humanos ao discurso conducente à política externa americana. Além de ser o primeiro presidente americano na história a reconhecer o genocídio armênio, ato que poderá afetar suas relações com a Turquia, Joe Biden culpou o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman pelo assassinato do jornalista saudita Jamal Hashukaji, ocorrido em 2018, no consulado saudita em Istambul. Após a avaliação dos EUA sobre o envolvimento de bin Salman no assassinato de Hashukaji, sanções foram impostas a 76 oficiais sauditas.
Além disso, Biden congelou temporariamente as vendas de armas para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, prometendo examinar os acordos de armas que foram feitos entre estes estados e os EUA durante o mandato de Trump. Com respeito à guerra no Iêmen, as sanções impostas aos Hutim no Iêmen foram remitidas.
Como podemos ver, o novo presidente tomou diversas medidas em relação a assuntos que influenciam a vida no Oriente Médio. Para nós que vivemos em Israel, as medidas de Biden são importantes. Mesmo se relacionadas a países distantes, elas nos afetam de formas diferentes e certas vezes, inesperadas. Só nos resta aguardar que este presidente, que até então escolheu deixar a embaixada dos EUA na capital israelense, Jerusalém, continue a liderar movimentos que sejam bons para o país e para o povo judeu.
Foto: Gage Skidmore from Surprise, AZ, United States of America, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons