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Quantos “likes” você precisa pra ser feliz?

Por Simone Wenkert Rothstein 

Neste diálogo Simone e Tal conversam sobre os efeitos das mídias sociais na autoestima.

Simone – Olá Tal! E aí, o que você me conta?

Tal – Simone, no fim de semana eu assisti o documentário “Dilema das Redes”, não sei se você viu. Olha, ele “dá pano pra manga”! É impressionante como as mídias sociais são capazes de manipular a realidade!

Simone – É verdade, tanto a realidade social quanto a subjetiva.

Tal – Pois é, foram tantas situações chocantes que vi no documentário, mas tem uma que é a de uma menina, uma adolescente que posta a sua foto sorrindo no Instagram. Pipocaram algumas reações tipo: “Que fofa!” ou “Você é linda”. E aí o sorriso dela se alargou. Mas depois de umas tantas mensagens “simpáticas”, chega uma que diz que ela devia esconder as suas orelhas enormes. O sorriso dela murchou imediatamente!

Simone – E a autoestima também.

Tal – Exatamente!!! Como pode? Ela passa a se olhar no espelho, com um semblante entristecido, buscando esconder as orelhas. Quantos likes ela precisa pra ser feliz? Quantas mensagens fofas ela vai precisar receber pra recuperar o sorriso?

Simone – Essa é uma boa pergunta, Tal. Do que ela precisa pra resgatar seu sorriso, sua alegria, sua autoestima? E pra isso podemos pensar como se constrói a autoestima.

Tal – Boa!

Simone – Nossa autoestima vai se esboçando desde os primeiros momentos de vida. Tem relação com o quanto fomos desejados por nossos pais, com a alegria que percebemos no olhar deles quando nos olham, com a capacidade de nos acolherem. Os pais (função materna) funcionam como um espelho pra nós. E é neste espelho que nos reconhecemos, reconhecemos nossa autoimagem. Ele é a base da nossa autoestima, da segurança que sentimos na relação com a vida.

Tal – Mas isso é só o começo.

Simone – Sim, é só o começo, mas é como uma base. São as fundações que sustentam a nossa estrutura emocional. E, na adolescência, o jovem vive uma nova fase, em que busca um espelho diferente para se reconhecer, não mais os pais. Agora, a opinião dos amigos, dos colegas e atualmente, da rede é o que serve de espelho pra ele. Aquela estrutura emocional inicial que podia ser consistente ou vulnerável será exposta e poderá se fortalecer ou fragilizar, colocando em xeque a confiança que o jovem tem sobre o seu valor.

Tal – Mas os valores hoje estão bastante distorcidos, né?!

Simone – Hoje em dia, a gente precisa lidar com esse grande espelho virtual que são as mídias sociais. Vemos refletidas nas telas uma sequência de imagens idealizadas: pessoas que se apresentam como modelos, corpos irretocáveis, viagens incríveis, casamentos dos sonhos. Tudo é muito perfeito! E quem, na realidade, mantém o padrão das postagens do Instagram ou do Facebook? É difícil sustentar a autoestima diante de tamanha exigência!

Tal – É um mundo ilusório. Acho que cada vez que uma dessas meninas posta uma foto, ela está tentando se convencer de que é parte do time das perfeitas!

Simone – E se não receber mil “likes”, teve a “confirmação” da sua imperfeição.

Tal – Uau, isso é muito cruel!

Simone – Cruel e superficial, porque “dar like” não é uma atitude comprometida e não necessariamente equivale ao gostar da pessoa. Mas muitas vezes, especialmente na adolescência, não receber likes gera um sentimento de inexistência, de desvalor. A menos que a adolescente já tenha descoberto um segredo fundamental: “ninguém é perfeito, nem elas, nem você!”. Aí, ela consegue uma coisa maravilhosa que pode mudar vida dela: vai poder renunciar à tentativa de ser perfeita.

Tal – Isso é A libertação: não precisar ser perfeita. E eu ainda digo o seguinte: mais vale um sorriso ao vivo do que mil likes na tela!

Simone – É, esse é um desafio dos nossos tempos, poder equilibrar o uso dos aplicativos, poder aproveitar o mundo virtual, sem perder o mundo real. Nada como o contato olhos nos olhos, a conversa sincera e até a conversa fiada, pra se sentir reconhecida, não pelo o que aparenta ser, mas pelo que ela é na vida real.

Foto: Pixabay

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