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Machismo e racismo: como combater?

Por Janine Melo

O vírus responsável pela pandemia mundial ataca nosso sistema respiratório e nos asfixia. Mas ele não é o único responsável pela falta de ar constante no nosso dia-a-dia. Há doenças piores, mais antigas, enraizadas em nós e, assim como esse vírus, invisíveis aos olhos humanos (se bem que seus sintomas são extremamente visíveis, apesar da gente ter essa mania de fingir que não vemos). Doenças como o racismo e o machismo.

Eu vivo uma realidade israelense, mas com o olhar sempre virado para o Brasil. Nestas últimas semanas, enquanto falamos no Oriente Médio mais sobre o aumento da violência doméstica, temos também visto as mortes causadas pelo racismo embutido em órgãos públicos e pela realidade periférica na qual pessoas negras vivem nas Américas até hoje. Aqui em Israel, desde o começo do ano, foram nove casos de feminicídio, a sua maioria feitos pelo parceiro da mulher assassinada. Na última semana, no Irã, Romina Ashrafi, uma menina de 13 anos foi morta pelo pai após ter fugido de casa com um homem de 35 anos. Há países vizinhos no qual a morte de uma mulher por um membro da família não é vista como assassinato, principalmente se este foi cometido em nome do “orgulho da família”.

Enquanto isso, no Brasil, vemos inúmeros casos de crianças e adolescentes mortos, que em sua maioria (segundo um levantamento feito pela ONG Rio de Paz sobre morte de crianças entre 7 a 14 anos, entre 2007 e 2019) eram negros. Nos EUA vimos a morte de George Floyd, que foi brutalmente asfixiado por um policial de Minneapolis.

Todos estes casos são exemplos que nos mostram como são formuladas e executadas políticas de segurança públicas e como a cultura misógina, presente em diferentes sociedades e culturas, se espalha como doença e ate vira lei concreta.

Vejam bem, escrevo este texto não com o intuito de dizer algo sobre a polícia, traficantes ou sobre homens assassinos de suas esposas, filhas e irmãs. Escrevo estas palavras com o intuito de dizer algo sobre todos nós. O machismo, o racismo, estes são problemas ligados a todos, independentemente de você ser uma pessoa racista ou não – pois não basta  não ser racista, devemos ser ANTIRRACISTAS, como diria Angela Davis. Como? Desenvolvendo o pensamento crítico. Lendo livros de autores vindos de grupos minoritários e excluídos da narrativa social, de escritoras mulheres e de pessoas com diferentes identidades de gênero. Participando de palestras (até online!), discutindo sobre essa realidade exclusiva. Se pondo ativamente ao lado dos que sofrem injustiças, falando, votando, discutindo, brigando com quem faz piadas ou comentários que já deveriam há tempos ter sumido do século 21.

Para terminar, gostaria de mencionar a grande filósofa Djamila Ribeiro: “Quem dorme em berço esplêndido no país das capitanias hereditárias, onde a cada vinte e três minutos um jovem negro é assassinado, quem fecha os olhos às marchas reacionárias postas nessa nação sobre o cemitério indígena e negro a céu aberto que é esse pais, que se cale”. Eu, como mulher, falo. Eu, como judia, falo. Eu, como branca, me calo. Ouço e leio, e quando me deparo com alguém perpetuando o racismo e o machismo enraizado nas minhas sociedades, ai eu abro a boca. E quando eu abro, é pra gritar.

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