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O poder do tahine

Por Janine Melo

O tahine é um alimento incrível. Na minha casa, não passamos o dia sem comer algo com ele. Usamos para preparar hummus, comer com almôndegas, misturar na massa do pão, assar bolos, fazer halva, ate smoothie, sorvete e molho pra salada. No tahine temos magnésio, cálcio, potássio e fósforo, além de podermos adicionar a ele alho, coentro, limão, carne, cogumelos e tudo o que tem de mais delicioso no mundo. O tahine é uma maravilha. Mas eu vou confessar algo a vocês: o verdadeiro poder deste condimento eu descobri apenas semana passada, graças à companhia de tahine “El-Arz”.

“El-Arz”, uma das companhias que produzem e vendem tahine em Israel, é dirigida por Julia Zohar, mulher, palestina e cidadã de Nazaré. Semana passada, Julia resolveu fazer um ato importante e doou parte dos ganhos da companhia para o estabelecimento de uma linha de ajuda para jovens LGBT árabes que vivem em condições precárias e em perigo. Apos sua doação, vozes opostas foram ouvidas dos quatro cantos do país: enquanto árabes e judeus liberais apoiaram sua ação, donos de diversos supermercados foram vistos jogando publicamente dezenas de seus tahines “El-Arz” e dirigindo-se a população árabe com o pedido de boicotar a companhia.

No meio dessa tempestade, apenas um dos políticos do partido árabe presente hoje no Knesset se posicionou publicamente a favor da ação de Julia: a parlamentar Aida Touma-Sliman. Nem mesmo Ayman Odeh, o chefe do partido, fez uma posição direta. Ele se contentou em postar no twitter “quão hipócrita é boicotar Tahine Al-Arz e, em troca, manter todas as empresas israelenses orgulhosas de apoiar o assentamento e o exército?! (…)” e, novamente, falar da ocupação israelense em vez do tema principal que é a situação dos árabes LGBT.

Na semana passada, eu me vi pensando mais uma vez sobre nosso poder como consumidores. Pela primeira vez na história, uma companhia árabe suporta publicamente uma causa tão pouco comentada dentro de sua própria sociedade. Essa ação tem uma importância que nem mesmo eu sei por em palavras, e hoje mais que nunca precisamos estar atentos a essas novas tendências e saber apoiar quem as conduzem – e também, saber apoiar quem as apoiam. Tenho certeza que El-Arz vai perder muitos consumidores, mas mais que tudo, eu espero que ela ganhe apoiadores.

Domingo eu fui ao mercado e comprei tahine para preparar um jantar gostoso em casa. O tahine foi o El-Arz.

*Este texto não foi patrocinado pela companhia. Espero que, a partir deste texto, nós possamos repensar nossos hábitos de consumo e apoiar companhias que valorizam causas que procuram melhorar a situação tanto humana quanto ecológica mundo afora.

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